Outros nomes que este procedimento pode ser chamado:
PET/CT ou PET Scan neurológico, PET/CT ou PET Scan do sistema nervoso central, PET SCAN para avaliação do metabolismo cerebral ou de tumores do cérebro, Tomografia por emissão de pósitrons cerebral, PET com FDG-18 para avaliação do metabolismo cerebral ou de tumores do cérebro, PET scan com FDG para avaliação do sistema nervoso central, PET scan com flúor 18 do cérebro, PET/CT Cerebral, PET/CT neurológico.
Introdução:
A medicina de precisão e o desenvolvimento de biomarcadores têm sido foco de diversos estudos como meio para o desenvolvimento de novas intervenções e manejo de doenças neurológicas. A Medicina Nuclear, como a especialidade que se ocupa do diagnóstico, tratamento e investigação médica mediante o uso de radioisótopos, tem desempenhado um papel essencial no avanço do conhecimento das doenças neurológicas, sendo capaz de permitir diagnósticos mais precoces e específicos, particularmente relevante quando disponíveis drogas modificadoras do curso da doença, além de determinar prognóstico clínico e levar à otimização da conduta médica, que compreende desde terapêutica com fármacos até cuidados sociais. Os métodos da Medicina Nuclear vão além da medição da atrofia e avaliam biomarcadores específicos da doença, alguns dos quais precedem a neurodegeneração por muitos anos.
Dentre as ferramentas da Medicina Nuclear, a Tomografia por Emissão de Fóton Único (SPECT, do inglês Single Photon Emission Computed Tomography) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET, do inglês Positron Emission Tomography) são técnicas que utilizam radiofármacos para a avaliação de diferentes fenômenos funcionais (classicamente perfusão cerebral para SPECT ou metabolismo para PET), embora hoje exista uma infinidade de traçadores que permitem o estudo de muitos eventos moleculares no cérebro.
A evolução das técnicas nucleares em direção à imagem molecular permitiu a detecção in vivo de fenômenos característicos de doenças neurodegenerativas, como distúrbios da função dopaminérgica, depósitos beta-amilóides ou de agregados de proteína tau por meio de traçadores específicos.
O metabolismo cerebral da glicose está intimamente ligado à função neuronal e sináptica, sendo responsável por aproximadamente 95% de trifosfato de adenosina (ATP) necessário para exercer a função cerebral. A avaliação do consumo regional de glicose cerebral pode ser feita com o 2-[18F]-fluoro-2-desoxi-D-glicose ([18F]-FDG), um análogo de glicose, que difere da mesma devido à substituição de um grupo hidroxila na segunda posição do carbono pelo radionuclídeo flúor-18. Após o transporte facilitado para os neurônios, o [18F]-FDG concentra-se intracelularmente e fica retido após a fosforilação pela enzima hexoquinase. Trata-se do radiofármaco mais amplamente utilizado em PET-CT, tanto para aplicações oncológicas quanto no campo da neurologia.
Indicações:
- Avaliação de demência, como em diagnóstico diferencial, estratificação de risco, avaliação prognóstica e de progressão de doença, como conversão de comprometimento cognitivo leve (CCL) para doença de Alzheimer (DA).
- De forma objetiva as principais recomendações clínicas são: sustentar o diagnóstico precoce de DA em CCL; diagnóstico precoce de demência por corpos de Lewy (DCL) e demência frontotemporal (DFT); diagnóstico diferencial entre DA e DFT (I), DA e DCL (II), DFT e DCL (III), DA e demência vascular quando os dados clínicos e de RM são inconclusivos (IV); e diagnóstico diferencial entre síndromes parkinsonianas neurodegenerativas associadas à demência (V).
- Epilepsia: auxílio na localização de foco epileptogênico em avaliação pré-operatória de adultos e crianças com epilepsia fármaco resistente.
- Encefalites, incluindo encefalite autoimmune, encefalite infecciosa e pós infecciosa, assim como em outras encafalopatias inflamatórias (ex: neurolúpus), especialmente em pacientes com RM negativa ou inconclusiva.
- Neuro-oncologia: papel limitado devido à biodistribuição fisiológica com elevada concentração cerebral do radiofármaco, porém pode ser aplicado em casos selecionados, como em detecção de tecido tumoral viável.
Na prática clínica as indicações mais comuns incluem demências e epilepsia. Embora as demências tenham características histopatológicas subjacentes específicas, em geral se manifestam com uma perda neuronal, alteração gliótica e diminuição da conexão sináptica. O dano tecidual cerebral é detectado como áreas de hipometabolismo, com assinaturas metabólicas distintas. Por vezes há uma sobreposição significativa de fenótipos clínicos e ocorrência concomitante de doenças distintas, contudo cada tipo de patologia geralmente começa em uma região característica do cérebro e evolui em um padrão previsível, resultando assim em síndromes clínicas reconhecíveis. O reconhecimento da distribuição da captação cortical de [18F]-FDG pode levar à confirmação de diagnósticos clinicamente suspeitos, bem como levar a diagnósticos que se apresentam de forma atípica. Particularmente quando associado a achados clínicos que sustentam a hipótese, o PET-CT neurológico com [18F]-FDG apresenta altos valores preditivos para diagnóstico de demências. Por sua vez, na detecção de focos epileptogênicos em pacientes com epilepsia refratária ao tratamento também é observada alta sensibilidade, variando de acordo com a origem do foco, atingindo até cerca de 90% em epilepsia do lobo temporal. Em crianças com epilepsia de lobo frontal, a sensibilidade e especificidade são respectivamente de 92% e 62,5%. As áreas de hipometabolismo estão relacionadas não apenas a danos neuronais, mas também podem sofrer influência de outros fatores, como supressão funcional contralateral através de fibras do corpo caloso ou ainda por influência de medicações.
Figura 1 – PET-CT com [18F]-FDG: Estudo evidencia hipometabolismo glicolítico cerebral na região temporoparietal bilateral, frontal bilateral e no cíngulo posterior. Atividade metabólica preservada no lobo occipital, córtex sensitivomotor primário, tálamos, núcleos da base e cerebelo. O padrão pode ser observado em pacientes com doença de Alzheimer. Fonte: Arquivo pessoal do autor.
Radiofármacos utilizados:
[18F]–Fluordeoxiglicose (FDG).
Preparo para a realização do exame:
Jejum de 4 a 6 horas. O consumo de água está permitido neste período de jejum.
Como é feito o exame?
- O paciente será recebido pelo setor Recepção, onde deverá providenciar os documentos previamente relacionados para criação ou atualização da ficha cadastral, bem como ler e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido para a realização do exame.
- O paciente receberá um crachá de identificação e será encaminhado ao setor técnico para início do procedimento com uma entrevista para coleta de dados clínicos, verificação de preparo e prestação de orientações.
- Em seguida será encaminhado à sala de repouso. Uma veia periférica será puncionada e mantida com soro fisiológico. Os níveis de glicemia do paciente serão verificados.
- Após 15 a 30 minutos, o radiofármaco será injetado na veia e o paciente deverá aguardar. Durante o período de repouso o paciente deve manter a vigília e evitar falas ou movimentos que possam interferir na biodistribuição normal do radiofármaco.
- A aquisição das imagens será realizada 30 a 60 minutos após a administração do radiofármaco.
- Tempo médio da aquisição das imagens: 15 minutos. Durante a aquisição o paciente não deve movimentar a cabeça.
Efeitos colaterais e contraindicações:
Sangramento, edema ou dor pode ocorrer no local da injeção.
Reações ao radiofármaco são extremamente raras e quando ocorrem geralmente são de leve intensidade. Alguns efeitos descritos na literatura são: febre, náusea, eritema, rash cutâneo, cefaleia, dor torácica, hipotensão, tontura, astenia e outros.
Dentre as contraindicações destacam-se:
- Gravidez ou com suspeita de gravidez. Recomenda-se a suspensão de amamentação por 24 horas após o procedimento.
- Incapacidade de cooperação com o procedimento.
Como solicitar:
- PET/CT Neurológico (com Fluordeoxiglicose-18F) – Código TUSS: 41001311.
* Incluir o CID, hipótese diagnóstica e/ou indicação do exame.
Considerações finais:
O PET-CT neurológico com [18F]-FDG fornece informações funcionais sobre o sistema nervoso central, complementares ao quadro clínico e aos exames de imagem anatômica convencional. Trata-se de método diagnóstico seguro, com indicações bem estabelecidas na literatura médica. Converse com o médico nuclear para esclarecimentos adicionais.
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- Simão, GN; Pitella, FA. Neurorradiologia nas demências. In: Duarte, PO; Amaral, JRG (org.). Geriatria: Prática Clínica. 2. ed. São Paulo: Editora Manole. 2023.
AUTOR: Dr. Felipe Arriva Pitella – CRM 130.053 – Médico Nuclear